«(...) A minha carruagem era a quarta da fila, logo atrás do automóvel do infante D. Afonso. Surpreendido e inquieto pelo ruído de um tiro de revólver ou de Browning, que manifestamente vinha do lado da estátua equestre, quando a minha carruagem passava em frente à porta do Ministério da Guerra, e para logo sentindo apertar-se-me o coração, por àquele tiro, evidentemente um sinal, se ter imediatamente seguido um nutrido e rápido tiroteio para as bandas do Ministério das Obras Públicas, que as equipagens iam defrontando, - saltei do meu carro e corri para o lado de onde o tiroteio partira. Nessa ocasião ia passando também, a correr no mesmo sentido, o par do Reino António Costa, e ambos seguimos envolvidos na espessa onda de povo que fugia para as ruas do Ouro e do Arsenal. Quase ao dobrar a esquina para esta última rua, viu-me o director do Banco de Portugal, meu velho e dedicado amigo Gomes Neto, que, levantando os braços, exclamou: "Oh! João Franco, mataram o rei…" Ao que um polícia, ao nosso lado, acrescentou - "E mataram também o príncipe real!... Mas matámos já os que os mataram." E outro polícia ainda, com uma carabina na mão, e mostrando-ma, disse: - " Foi com esta que mataram o príncipe. Vou levá-la ao meu comandante." Perguntei para onde haviam seguido as carruagens, e ouvindo que para o Arsenal, lá me dirigi pela rua desse nome, a pé como viera até ali, sempre envolvido com populares que, apressados e inquietos, procuravam afastar-se, receando o mais que pudesse haver.»
In Franco Castello-Branco, João, Cartas D’El-Rei D. Carlos I a João Franco Castello-Branco seu último Presidente do Conselho, Lisboa, 1924
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